hoje é dia de história: O DIA QUE COMPREI CINCO CENTAVOS DE CRUZEIROS DE CHUVA

04/12/2016 11:57

            Hoje com a diminuição das chuvas temos algumas preocupações. A constante interferência no meio ambiente provoca esse caos que estamos passando e poderá piorar. Ouvi certa vez que o agricultor vive e vivia com torcicolo! Isso por viver olhando para o céu. Hora para ver se vai chover hora para ver se vai parar de chover.

            Tem um ditado que me marcou muito “Neblina na serra chuva na terra neblina na baixa, sol que racha”! Esse dizer só pode ter sido criado por um agricultor. Era uma maneira d’ele prever o tempo. Hoje com todo o aparato meteorológico as previsões nem sempre acontece como o desejado.

            Antes desse evento do efeito estufa, dos constantes desmatamentos, da poluição e outros ...ãos por aí o tempo era quase sempre a repetição do ano anterior. Aqui mesmo em nossa região escutei dizer de um ano muito ruim de chuva, 1963. Segundo contam foi o pior ano de chuva ocorrido. Uma seca que provocou a perda de muitas lavouras. Agora ouço dizer que normalmente acontece um ciclo de cinco anos bom e um ano ruim. Mas, atualmente só ouço choradeira.

            A história que quero falar aconteceu na década de 1950. Era um ano de pouca chuva. Um lavoureiro preocupado com a seca que parecia estar às portas do período de plantio. Já ia para mais de quinze dias sem chuva. A lavoura corria o risco de perder. Havia plantado a pouco e apenas umas três chuvas molharam a terra. O arroz que até então estava bonito começava a enrolar as folhas. O milho sofria demonstrando no amarelamento das folhas.

            Esse desespero era geral na região. O comentário era só a falta de chuva. “Em toda a minha vida nunca vi coisa igual”! “Se não chover logo vou perder toda a minha roça”! Nas rodas de conversa era só isso que ouvia. Um período que o plantio era de sobrevivência. A coisa tava ficando feia. Os mais fortes suas lavouras eram maiores. Na colheita retirava o que precisava para passar o ano o que sobrava vendia para ter um dinheirinho. Assim, a vida ia seguindo.

            Certo dia o céu amanheceu do jeito que eles pediram a Deus. Todo nublado muitas nuvem carregadas. A temperatura havia baixado. Um ventinho leve quase uma brisa carregava um friozinho. Tava marcada daquele dia não passava era chuva na certa. Como era esperada ela veio. Só que fraca. Demonstrava que não era suficiente para molhar a terra e salvar a lavoura. Quando ela começou a minguar um fazendeiro veio até o terreiro e com muita fé fez um pedido.

            “Meu Deus eu gostaria de comprar um pouco de chuva! Se vier água suficiente para salvar a lavoura eu pago cinquenta centavos de cruzeiros”!

            Não foi nada não o tempo fechou novamente e o que seria apenas uns respingos virou uma chuva forte. Daquelas que enche represa, rios e córregos dão enchentes que apavora todo mundo. Sair de casa? Impossível o aguaceiro não deixava. Nem as capas mais resistentes segurava a água. O pião chegava molhado no destino. Foram três dias de chuva copiosa!

            O roceiro preocupado com a quantia de água que descia do céu toda hora vinha até a janela e pedia: “Meu Deus eu agradeço, mas o Senhor num acha que esta exagerando? Afinal cinco centavos de reis não é tanto dinheiro assim”! E nada da chuva parar. No outro dia: “Meu Deus eu considero essa quantidade de chuva paga a minha compra”

            Nada Deus não deixou margem para depois ouvir de qualquer gaiato, até mesmo do comprador de chuva que ele era caloteiro e não entregou a quantidade de chuva comprada.

            No quarto dia amanheceu um lindo sol. Todos os roceiros e fazendeiros correram para ver o plantio. Estavam belas, viçosas como nunca haviam visto. Nas rodas de conversa só se falava da chuva e como a lavoura agradeceu aquela chuva. Nunca se colheram tanto como naquele ano.

            O comprador de chuva contou o que fez para os demais e um deles disse: “É! Tenho certeza que ele ainda mandou um pouquinho mais como groja”. Todos riram de satisfação só o adquirente da chuva ficou sério e completou. “Só quero dizer a vocês se algum dia for comprar chuva não compra mais do que precisa! Nunca pensei que cinco centavos de cruzeiros eram tanto assim! Imagine se eu tivesse pedido um cruzeiro de chuva”! Outro respondeu: “Até pato iria morrer afogado”. Foi uma risada só.

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Tópico: hoje é dia de história: O DIA QUE COMPREI CINCO CENTAVOS DE CRUZEIROS POR UMA CHUVA

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