O CAÇADOR DE PASSARINHO
04/04/2017 12:20Caçando passarinho! Essa foi a pergunta que fiz ao companheiro. Lá pelos ido de 1970 um amigo saiu pelo mato caçando. Foi embreando mata adentro despreocupado. Sempre olhando para os galhos das árvores tentando avistar algumas pombas do bando. Uma carne gostosa e como todos sabiam em uma caçada dificilmente vinham da mão abanando, era no mínimo três ou quatro aves abatidas. Uma festa no jantar.
O caçador foi até a grota do Martim assim chamada por um acidente com o cavalo que o dito cujo havia sofrido nesse local. Ali chegando achou estranho ela estava a duas léguas de sua casa. Comentando com ele mesmo exclamou: Viche nem vi a hora passar! Estou muito longe de casa disse admirado por não acreditar que havia caminhado tanto sem perceber a hora.
Bem pensou ele, já que estou aqui vou ver se posso pegar algum mateiro. A região era famosa pela quantidade de animais de caça que existia lá. Desceu o barranco, caminhou alguns metros quando foi surpreendido por um porco do mato que calmamente bebia água em uma poça. Hoje é meu dia! Vou ter carne por muito tempo. Sem muita pressa armou a bate bucha e preparou a mira para a tirar na presa que ainda não o havia visto.
Foi nesse momento que aconteceu o fato. Uma voz estranha lhe falou baixinho, ocê tem certeza que vai matar esse porco? Subiu um arrepio na espinhela percorrendo lá do sobre até a nuca. Ele olhou para o lado e não viu nada. Pensou isso é só cisma. Voltou e viu o porco no mesmo lugar. Mirou novamente e quando estava preste a picar fogo no bicho a voz voltou.
- Cê já pensou quês se animal não está pronto pra morre? Ocê num quer um bode?
Dessa vez ele sentiu um soprado no cangote que além do arrepio veio a acompanhado de um frio e o cabelo arrepiou todo. A coisa foi tão forte que o chapéu chegou a levantar na cabeça. Muito cismado perguntou:
- Quem tá í?
Nenhuma resposta veio de volta. Nesse momento, a coisa pegou. Ele pensou deve ser a coisa ruim. Esse catinguento tem atrapaiado a minha caçada. Voltando para a voz falou:
- Num adianta ocê querê me atrapaia, hoje levo esse porco pra casa de quarquer jeito.
Essa fala num prestou. Ao olhar para o porco ele viu um bode que exalou seu cheiro por todo lugar. O bode olhando para ele falou:
- Ocê quer levar um porco ou um bode?
Antes que ele respondesse o bode levantou e se apresentou. Era o diabo em pessoa ali presente. O caçador em seu desespero atirou no rumo da coisa ruim. Foi um fumaceiro tão grande que ele não via mais nada. Num instante sem saber o que estava acontecendo o bicho ruim apareceu em cima do barrando falando com uma voz grave.
- Ocê tá muito corajoso. Ao invés do porco vou levar você para o inferno.
As pernas do caçador amoleceram, ele amarelou, a tremedeira era tanta que seus dentes eram ouvidos a léguas tamanho a batição. De repente uma força que ele não sabe de onde veio, talvez o medo ele começou a correr só parando quando chegou em casa. Lá ele não conseguia falar a mulher dele chegou perto e logo sentiu um cheiro estranho e ao mesmo tempo conhecido.
O caçador havia cagado todo. A mulher o empurrou até um córrego e fez ele tomar banho. Com o choque da água fria ele conseguiu recuperar a fala e contou tudo para a companheira.
- Uai! Ocê num disse que hoje traria pra casa nem que fosse o capeta! O que foi? Ele num tava lá? Ocê só tem gogo foi fala muito veja no que deu!
Desse dia em diante o caçador nunca mais foi para as bandas da grota do Martim. Caçar passarinho isso foi outra prática que ele deixou de fazer.
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