A VIDA DA FADA DA LUA ANTES DO “PARA SEMPRE”

Toda estória infantil termina com a frase: “E viveram para sempre”. Até alcançar o para sempre muita coisa aconteceu. Fica aqui a pergunta: Como foi a vida dos dois antes desse momento após o encontro dos príncipes e princesas? Eles viveram uma vida longa ou simplesmente deixou de existir? Esse casal não tem continuação em suas experiências. No entanto, a estória termina com o para sempre? Todas as estórias sempre finalizam com esse “para sempre” e não conta quantos filhos a Bela Adormecida teve e o que eles fizeram! Quantas princesas e príncipes simplesmente deixaram de existir no final.
Pensando sobre esse “para sempre” resolvi contar a vida da Fada da Lua antes de chegar nessas duas palavras que não termina em nada. Iniciando...
O jovem casal começou a vida em outra região. Ao sair de sua terra Marcos vendeu tudo o que tinha. Umas poucas cabeças de vacas. Uma casa onde morava. As poucas terras que tinha alugou. Pensou se algum dia tiver que voltar saberia para onde ir.
Começou vida nova bem longe em outro estado. Lá estabeleceu e com pouco tempo tornou-se um grande proprietário de terra e muitos bois. O casal teve três filhos. Um menino, o mais velho e duas meninas. Seus filhos cresceram e na idade de escola os matriculou na melhor da cidade. As duas filhas puxaram a mãe em seus encantos beleza e cantavam tão bonito como ela. Gostavam de música. Aprenderam a tocar instrumentos e cantavam na escola nas festividades comemorativas.
Seu filho, no entanto, tinha mais facilidade com a ciência, matemática. Gostava de desenhar. Sempre retratava os momentos com seus desenhos. A mãe dizia que isso era herança do avô. Praticava esporte e aprendeu a lutar. Fizera caratê. Mais parecido com o pai. Gostava de terra e era um exímio cavaleiro.
A Fada continuou sendo chamada por Marcos de “minha Fadinha”. Ela evitou por muito tempo a sua obrigação de cantar para a lua. Passou algum tempo longe das noites de lua cheia. Até que suas filhas completaram onze e doze anos. O filho mais velho estava com treze. Na primeira lua Azul do ano a Fada saiu para o campo junto a uma pedreira. Quando a lua começou a aparecer no horizonte ela entoou o mais lindo dos cantos que Marcos e seus filhos ouviram. Todos aproximaram as filhas cantaram juntas.
Sem entender como as meninas sabiam aquela música Marcos ficou preocupado. Seu filho sentou em uma pedra mais distante e pôs-se a desenhar ao mesmo tempo em que fazia um som gutural diferente. Logo algumas aves noturnas vieram e pousaram nas árvores próximas.
Marcos preocupado com aquele ritual esperou até o final chamou a Fada:
Marcos – O que está acontecendo?
Fada – Mesmo estando afastada do meu povo a nossa ligação é muito grande. As nossas filhas precisam ir até lá! É tempo delas se transformarem.
Marcos – Como assim?
Fada – Ainda que elas tenham parte humana tenho observado que elas começam a tornar fadas também.
Marcos – Tudo bem! Vamos contar a elas.
Fada – Isso não basta. Elas tem de passar pela terra das fadas para completar o ciclo.
Marcos – Não entendi aquele som que nosso filho fazia.
Fada – É o som do guerreiro. Ele também terá de passar pela iniciação.
Sem dizer nada Marcos afastou e voltou para a casa. Quando todos chegaram ele disse que na manhã seguinte iriam voltar para a casa antiga. Teriam que realizar o desejo do mundo das fadas e não queria que nada desse errado.
Marcos – Amanhã vamos voltar para onde a encontrei! Só me preocupa é como vamos abrir o portal.
Fada – Não se preocupe. Todos os portais tem uma Fada cantando em lua cheia.
Preocupado com o que poderia acontecer não deixou de transparecer sua preocupação. Ele sabia que uma Fada quando deixa o seu reino para casar com um humano teria consequência ao voltar. No dia seguinte todos retornaram a fazenda onde os dois se conheceram.
Fada – O seu semblante não nega a sua preocupação!
Marcos – Não vai ser fácil para você retornar ao seu mundo. Fico pensando no que vão fazer!
Fada – Muitas fadas retornaram.
Marcos – Sei disso! Sei também o quanto foram humilhadas!
Fada – Ao sair de lá eu sabia das consequências. Foi o amor que tenho por você me tornou forte para deixar o meu mundo e vir para o seu.
Marcos – Mesmo assim, não deixo de pensar no que poderá acontecer.
Na mesma noite os quatro foram para a pedreira local que se encontraram. A Fada se posicionou ao centro e as duas filhas ficaram a mais nova do lado esquerdo e a mais velha do direito. Por alguns minutos houve um grande silêncio. A lua apareceu no horizonte, muito mais bela. Marcos comentou com o filho.
Marcos – Eu nunca havia visto uma lua tão bonita como essa!
Filho – Essa é a lua das fadas. A lua azul representa o nascimento delas. E hoje é especial! Minha mãe vai retornar a seu mundo.
Marcos – E levando duas pérolas.
Filho – Eu também tenho de ir. Posso defendê-las.
Nesse momento as três iniciaram seus cantos. Por meia hora elas cantaram e o filho ficou mais longe de Marcos e iniciou o canto do guerreiro. Em um determinado momento todos pararam ao ouvir uma voz.
Velha – Quem está aí?
Fada – Sou eu!
Velha – Ah a ingrata!
Fada – Não minha velha! A amada.
Velha – Você demorou muito a vir.
Fada – Sei que muitas não conseguiram ficar e retornaram antes do tempo. Eu voltei e veio duas fadas e um guerreiro.
Velha – estou vendo! Também veio o seu pecado.
Marcos – Se amar é pecado então nós dois pecamos.
Os dois – E continuaremos pecando.
Fada – Abra o portal para nós. Tenho de levar minhas filhas para passar pelo ciclo.
Velha – Vejo que o guerreiro também terá de ir.
Fada – Sim ele tem de realizar sua iniciação.
Velha – (Apontando para Marcos) Ele não pode.
Fada – Tudo bem ele entende! No momento certo ele virá me buscar.
A Velha faz um movimento e o portal abre. Do outro lado estão os soldados prontos para levar a Fada suas filhas e seu filho. Todos entram no portal e Marcos fica olhando. A velha olha para ele e diz:
Velha – Venha sempre aqui! Olhe bem no chão, nas árvores. Cante para a lua. Seu canto não é do mundo dos duendes e fadas. Não deixe de cantar. (desaparece no portal)
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